VOS ESTIS SAL TERRAE

Não me apetecia nada escrever sobre "isto", mas não me sai do pensamento. Não obstante a  direcção que tome, as notícias, os rios de tinta escritos, as imagens, tudo, mas tudo nos leva ao estado de crise a que o país chegou. Ai, não me apetecia nada falar sobre "isto"... é como se algo em mim se esgotasse, e também, diga-se bem alto, não quero esgotar mais tinta, pensamento e esforço a escrever/opinar sobre "aquilo" que todos opinam. Para evitar repetições e abusos de língua portuguesa (que agora, já é outra, pois já tem novo acordo. Até essa está em crise!), deixo-vos com as palavras de um douto.No meio das minhas leituras e memórias, trago-vos do passado longínquo histórico português, um homem que nos brindou no século XVII com boa escrita, pelo que espero que não caia nunca no esquecimento. Também, assim como eu, se encontrava DESACORÇOADO, não tenho outra palavra... é assim que me sinto... e traída com tudo "isto".

Meus caros, este Sr., este Grande Senhor, Padre António Vieira, do século XVII, é que sabia! No meio da sua enorme sabedoria, um dia foi pregar para os Peixes. Volvidos muitos anos, continua-se a pregar aos peixes, tal como ele fazia, sem resultados... Vá Srs., aprendam, aprendam com os vários séculos de História:

“Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm oficio de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou que a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os regadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?"

«A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer!"
(Padre António Vieira, in Sermão aos Peixes)


Ora meditem sobre estas sábias palavras, e digam-me lá se não se sentem também traídos...

"Não é tudo isto verdade?"


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