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Benedita

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Naquele dia, a luz era ténue e lá fora o mundo continuava como se nada fosse, confinado ao sopro da noite fria e desnudada que teimava em permanecer no meu corpo incandescente. Escondidas por entre os átomos (que eu tive tempo de contar), as suplicas ouviam-se por entre as minhas veias, enquanto o silêncio interior suportava as forças   lapidadas nos meus frágeis ossos. E naquela estranha geografia humana, onde se teciam novas mães e novos pais moldados em lençóis cravados de lágrimas, eu soletrava o teu nome num litígio quase inumano na esperança que a hora chegasse. De repente, a confusão dos minutos precipitou-se para o meio da sala e o rio que corria dentro de mim esgotou-se por entre a semente rubra a gritar em desespero, em cima do meu ventre esquecido.   – E mil poemas estalaram na minha cabeça num êxtase perfeito. Como se toda a criação coubesse dentro daquele segmento de segundo e toda a vida, até aquele momento, fosse apenas uma sombra.

Tempos estranhos

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Tempos estranhos, estes, tempos sempre da mesma cor. O silêncio perde-se para lá do horizonte onde, ainda assim, há quem grite de fora para dentro a uma só voz. Abafamos a dor, embalada naquele abraço que não podemos dar. Na televisão, a ligação é automática e a informação é sempre a mesma. Lá fora, a Natureza principia uma reconfortante ressurreição, enquanto o ser humano se confina à sua demasiada pequenez. Nada será como foi, o Universo tece uma nova História,  mas ainda não será desta vez... Cai a noite e, no meio de tudo, aquele abraço faz-nos falta. Somos todos gomos de uma mesma laranja, encostados uns aos outros na incerteza do amanhã. Olhamos de lado,  lavamos as mãos e entramos calados numa realidade ambígua. E, neste poema que agora nasce, ainda assim estamos juntos! Caminhemos no combate aos tempos estranhos da mesma forma com que construímos os sonhos!    @SChainho (31 de Março, 2020)