Benedita


Naquele dia, a luz era ténue e lá fora o mundo
continuava como se nada fosse, confinado ao sopro
da noite fria e desnudada que teimava
em permanecer no meu corpo incandescente.
Escondidas por entre os átomos (que eu tive tempo de contar),
as suplicas ouviam-se por entre as minhas veias,
enquanto o silêncio interior suportava as forças  
lapidadas nos meus frágeis ossos.
E naquela estranha geografia humana, onde se teciam novas mães
e novos pais moldados em lençóis cravados de lágrimas,
eu soletrava o teu nome num litígio quase inumano
na esperança que a hora chegasse.
De repente, a confusão dos minutos precipitou-se
para o meio da sala e o rio que corria dentro de mim
esgotou-se por entre a semente rubra
a gritar em desespero, em cima do meu ventre esquecido.
 – E mil poemas estalaram na minha cabeça
num êxtase perfeito. Como se toda a criação
coubesse dentro daquele segmento de segundo
e toda a vida, até aquele momento, fosse apenas uma sombra.
– E ali, naquele instante, nasceu a palavra mais pura – filha!
Mas foi apenas no momento em que a minha pele,
há muito inundada de ti, tocou a tua pele, que eu percebi
que, à minha espera, estava toda uma eternidade! 
@SChainho
20 de Abril de 2020



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