O Espelho
“Não era a vaidade que a atraia para o espelho, mas o espanto de descobrir-se.” (Milan Kundera) E naquele dia, descobriu-se como nunca antes se descobrira Levantou-se, sem vaidades, Manhã submersa, clara, cinzenta e fria e não fez perguntas, nem ensaios, nem rodeios ou escolhas... não podia! A mesma rotina, as mesmas horas, a mesma certeza E, assim, de braços dados com o azulejo frio da parede e o olhar constante de quem nada tinha para dizer, defrontou-se apenas com aquele gigante, dividido em fragmentos eternos e penetráveis invadindo a alma em golfadas de silêncio, a que chamamos vida e que pesa, pesa muito... Um peso em forma de fronteira a marcar os limites da possibilidade humana entre países desconhecidos E, logo ali, a estação intermédia do tempo em que mergulhava Afigurou-se-lhe como se fosse uma pluma a cair numa serenidade cruel e inverosímil sem chão certo para a acolher. Agora, de cada vez que olhar para o espelho, descobre o amor