FINITUDE
“Ficaram na pele um do outro até cegarem de emoção. Transpirava neles o desejo de amar até ao fim dos seus dias, mas recusaram-se a pensar no
futuro e no fim dos dias.
No exacto momento em que o desejo chegou, responderam aos impulsos e
entregaram-se com a intensidade de uma onda a invadir chão alheio. Levados pela
emoção e carência do momento, trouxeram de mãos dadas a felicidade a rebentar
pelas costuras e acreditaram que ela duraria, quem sabe para sempre, por entre
as brechas da imperfeição.
E durou…
Ah, mas eles fizeram-na durar até ao dia em que a estrada se
quebrou e o óbvio aconteceu – ele levou o calor do seu corpo para outro e ela espalhou o silêncio entre eles para abafar o inverno que crescia dentro dela.
“Estou farto de tudo”, disse-lhe ele com uma certeza mais abrupta do que um
terramoto.
“E eu também…”, gritou ela para dentro do ar que custava a respirar e
esperou que a calma e o descanso invadissem o espaço que era deles, para depois se
apresentar como solução, mas já não havia solução. Ele acreditou já não haver
solução.
Colocaram, ali mesmo, ele de uma maneira e ela de outra, um ponto e
vírgula numa convivência “leve e saudável” e aos poucos mataram a necessidade que
tinham de existir um pelo outro. Aquela mesma necessidade que, em tempos,
encurtou a enorme e violenta distância que existia entre eles, no dia em que se cruzaram pela segunda vez. Na primeira, estavam demasiado ocupados a levar as suas vidas “perfeitas” e solitárias, num mundo imperfeito e sobrelotado.
Ela chegou pé ante pé, pegou na cabeça dele, encostou-a a ela e fez-lhe um
último pedido,
“Olha por ti…Cuida-te, por favor.”
E foi nesse preciso momento que descobriram que o amor que sentiam um
pelo outro e que deixaram escapar por entre as mãos, era mais do que isso, era
para além disso, estendia-se para um tempo e um espaço que não souberam definir.
Nunca saberão.
Ficaram assim, por breves instantes, agarrados como almas gémeas que
não eram, enquanto os olhos grandes do felino lamentavam aquela perda. Dos deles,
caíam lágrimas em catadupa que se fundiram com as dela antes de embaterem no chão agreste
da cozinha. Levantaram-se, caminharam de costas voltadas, como devia ser, e seguiram caminhos opostos, sempre sem olhar para trás!
E ficaram a pensar que aquilo não era amor… Não era não, era mais do que isso,
era para além disso! Aquilo era a reinvenção da inocência e a consciência de
uma morte anunciada. Aquilo era o fim dos fins e sabiam que nada mais havia
a fazer. Não quiseram mais lutar. Nada mais havia para lutar. Ainda assim, fizeram como as árvores, morreram de pé, mesmo depois do ponto final."
In Pensamentos, @SChainho
Espreitaste hoje...
ResponderEliminarCuriosaste-me!
Curiosei-te!
Li-te lá e aqui!
Gostaste-me!
:-)
Muito obrigada, anónimo! :)
EliminarSem a muita obrigação do "Muito obrigada"!
ResponderEliminar:-)
Eu é que agradeço a "verbalização letrada" ou a "letralização verbante" dos teus/meus/nossos/de tantos... (outros...) pensamentos!
Mas "sente-te obrigada" a verbalizar tantos mais!
:-)
Sentir-me-ei anonimamente obrigado (nunca uma obrigação terá sido tão agradecida) a lê-los...
...ler-te!...
É sem obrigação que me sinto, quase diária e compulsivamente, como se fosse um parto nunca acabado, a verbalizar o "inverbalizável"! Que a "tanto me ajude o engenho e a arte"! Boas leituras!
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