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Prelecções

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e há homens que sonham em ser pais e ocupam o tempo nos tribunais e fazem da vida uma intriga e gastam saliva a falar do mundo pois eu busco sombras entre os pinhais a terra batida e aquecida eu procuro a areia gasta e o sol de Inverno eu procuro o meu corpo entre os teus braços e consigo ver a brandura nos teus olhos lassos eu dou-me ao mar como as gaivotas se dão à terra e nunca vou por onde vão os demais eu levo aos ombros uma carga de sinais e sou a esperança deles serem meus eu sou o entusiasmo próprio de alguém que consegue ver um pouco mais além eu sou a vida a ser vivida e sou o nada para lá do cais absorvo o tempo e aguardo… eu vim ao mundo foi p’ra me ver e por vezes sinto dor e febre de viver e por vezes sinto os Abismos a correr nas veias e quero-me em toda a parte dar-me ao vento e à leviandade como uma mão que tacteia na escuridão e que empurra a minh’alma para a imensidão um dia sonhei como os homens que querem ser pais mas tornei-me no próprio limbo das águas f

Improviso-te, todos os dias...

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Nunca dormia sem espreitar a lua através da janela do quarto. Um vidro fosco e frio separava o rosto macerado pelo tempo e a respiração entrecortada do odor matinal das urzes que se apoderavam da parede da casa. Baixou a cabeça, como quem pede perdão, e ficou a pensar no que queria ter dito e não foi capaz: “Das folhas em branco que busco no teu desejo, apenas preencho as que ficaram nos silêncios que nos aguardam até à eternidade. São elas que me lembram os riscos que corro quando te afasto para nunca mais te improvisar.  E sim, improviso-te todos os dias porque sei que não podes ficar.” @SChainho In Pensamentos [Devaneios nocturnos...] [Foto retirada de:  http://fotos.sapo.pt/divine ]

Destino

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“[...] depois de beber da tua loucura fiquei a pensar na forma contida como entraste na linha pura do meu destino eras a sombra oculta que rompia na verdade nua eras a voz sonante que rimava com a porta do meu corpo eras a manhã que trazia poesia sem dono agora que estás mais presente do que o verbo amar não desistas de chegar ao fim na estrada do meu aconchego [...]” @SChainho, In Pensamentos [Foto worldpress.com, 2011]

Todos os lugares

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"não sei o que faça com os todos os lugares que não conheci e nas ruas da minha cidade vejo-os nas portas dos cafés, no chão, nos beirais das casas onde mora a saudade nesses mundos distantes onde os teus passos ecoam há forças, tons avermelhados e sonhos de verdade vozes de sombras em sobressalto mostram-me esses lugares que não conheci e relembram-me os passos dados nas margens do que acredito todos os lugares que não conheci são frutos silvestres que busco nos teus lábios e não sei o que faça; se os reviva cá dentro só comigo como se partissem na caravela alada que perdi ou se os lance no turvado mar onde aprendi" @Sónia Chainho In  " Entre o Sono e o Sonho ", Vol. VI, Chiado Editora, 2015. (Antologia de Poesia Contemporânea) [Foto: O mar em Todos os Lugares, Lisboa/Nov, 2013]

Pai, amor perfeito

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"Há uma chama que nunca se apaga, Um abraço que sempre se eterniza, Uma presença que marca ao longe, Uma voz que nunca se cala. É no silêncio que nos encontramos, Na busca incessante e perene de um aconchego contido Nas palavras que não dizemos, não precisamos É sempre ontem, hoje e amanhã, Não tem hora, dia e mês Não tem cor, religião, nação ou razão É sempre hoje, sempre Porto de abrigo à espera de um navio ao longe, Fome deserta que nunca se finda Coração da terra, amor perfeito És diálogo inacabado e sempre vivo És o resumo do mundo, és princípio e fim És tu o  poema  que nunca dorme Para lá da vida que se entranha em mim" @SChainho [Retirado de Fotografodigital.com.br, Pai e filho no pôr do Sol ]

Devolve-me, por favor!

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"Fui à varanda sorver a calmaria da noite e o ar adocicado que emanava do fundo da rua. Ao longe, um café antigo recebia gente estranha que entrava e saía, num permanente corrupio. Tal e qual um enfermo que se vai habituando ao hospital, por saber que já não consegue viver fora dele, eu tentava desesperadamente esquecer-me desta doença incurável e aguardava que a sorte te trouxesse até mim para que, antes do fim, pudesses devolver-me. Entraste pelo quarto, sem bateres, e passaste a pertencer ao meu mundo. Apossaste-te dos meus sentidos e partilhaste a pureza e a verdade que havia nas sombras do presente. Transpirava em ti o amor avassalador que nunca percorremos. Caminhaste na minha direcção. Acompanhava-te um choro copioso e demorado e assim, sem meios para te levantares, deitaste a cabeça sobre o meu peito. Uma vontade férrea esculpiu o meu rosto nos teus caminhos e a tua mão, impregnada com a tua doçura, tocou-me levemente como se não me quisesse abandonar. Limpaste sofreg

Poros da lua...

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“às portas da morte deixaste a seiva da loucura permanecer no espaço aberto da estrada que eras tu e ainda assim continuámos silenciosamente a percorrer a verdade através dos troncos agrestes da nossa memória dessa casa que nunca habitaste mas que era nossa restou a beleza do retrato dos filhos que nunca chegaram hoje tenho a certeza que nada do que me deste era puro pura sim era a forma como te ressuscitava em cada noite em que vinhas sem medo por entre os poros da lua para me fazeres acreditar que eras meu quando eu era tua (…)” @SChainho In Pensamentos [Retirado de minilua.com]

Finisterra

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"Nos caminhos da sorte, vejo-te na muralha dos desejos Atravessando pontes silenciosas numa linha incontida Fazes falta aos que não acreditam, aos ultrajados da vida Transportas na bagagem solitária sonhos em sobressalto E almas ancoradas ao abrigo de um barco em finisterra És assim, feito de sombra e de luz, cetim e basalto" @SChainho, In Pensamentos                                                                  [Retirado do Blog RisingCities Espanha, Galicia ]

Viver das palavras e amá-las...

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 Abençoada alegria que me chega pelas palavras que eu tanto amo... "SChainho é uma das autoras de “Entre o Sono e o Sonho”, da Chiado Editora, que vai reunir centenas de poetas contemporâneos no Casino de Lisboa, dia 21 de Março".

Tempo suspenso

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"Enquanto cerrava os olhos e estalava os dedos das mãos, desenhava-te na minha pele e quebrava o tempo suspenso nas margens do mundo para sentir que o que fazia não era ligeiro, deixava marcas. O céu quase me abraçava e sentia-o como se me arrancasse do chão para me levar para lá da tentação, para me fazer acreditar nas emoções e no mar lânguido e sorvido dos rochedos acostados nas sombras de ti." @SChainho,  In  Pensamentos [Mulher a óleo, de Soledad Fernandez]