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Benedita

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Naquele dia, a luz era ténue e lá fora o mundo continuava como se nada fosse, confinado ao sopro da noite fria e desnudada que teimava em permanecer no meu corpo incandescente. Escondidas por entre os átomos (que eu tive tempo de contar), as suplicas ouviam-se por entre as minhas veias, enquanto o silêncio interior suportava as forças   lapidadas nos meus frágeis ossos. E naquela estranha geografia humana, onde se teciam novas mães e novos pais moldados em lençóis cravados de lágrimas, eu soletrava o teu nome num litígio quase inumano na esperança que a hora chegasse. De repente, a confusão dos minutos precipitou-se para o meio da sala e o rio que corria dentro de mim esgotou-se por entre a semente rubra a gritar em desespero, em cima do meu ventre esquecido.   – E mil poemas estalaram na minha cabeça num êxtase perfeito. Como se toda a criação coubesse dentro daquele segmento de segundo e toda a vida, até aquele momento, fosse apenas uma sombra.

Tempos estranhos

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Tempos estranhos, estes, tempos sempre da mesma cor. O silêncio perde-se para lá do horizonte onde, ainda assim, há quem grite de fora para dentro a uma só voz. Abafamos a dor, embalada naquele abraço que não podemos dar. Na televisão, a ligação é automática e a informação é sempre a mesma. Lá fora, a Natureza principia uma reconfortante ressurreição, enquanto o ser humano se confina à sua demasiada pequenez. Nada será como foi, o Universo tece uma nova História,  mas ainda não será desta vez... Cai a noite e, no meio de tudo, aquele abraço faz-nos falta. Somos todos gomos de uma mesma laranja, encostados uns aos outros na incerteza do amanhã. Olhamos de lado,  lavamos as mãos e entramos calados numa realidade ambígua. E, neste poema que agora nasce, ainda assim estamos juntos! Caminhemos no combate aos tempos estranhos da mesma forma com que construímos os sonhos!    @SChainho (31 de Março, 2020)

O futuro cresce dentro de mim

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"Cresce dentro de mim um futuro  cheio de pressa. Inesperadamente,  uma janela  abre-se no meio da neblina  e as labaredas  misturam-se com as águas do mar numa tormenta inexpugnável e solitária.  Uma eternidade é uma eternidade.  Há nas entranhas um cheiro a Terra  e a Luz. Replicam-se as dores, a paz tem rosto. Mergulho sem lágrimas no sentido frio  das coisas que não se explicam. Hei-de levar o meu sonho através da carne que palpita a cada passagem do tempo. Dentro de mim, seguram-se as horas de um mundo por descobrir. Uma  nova  riqueza sobeja-me no sangue  e há uma viagem  em segredo por fazer. Entreguei a alma.  Que será do Amor, quando o futuro continuar a crescer fora de mim?" @SChainho, 15 de Janeiro, 2019 [Nebulosa de Órion, retirado de: https://www.apolo11.com]

Mulher nua

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"Desfaço-me por entre papel  feito de cetim e lírios. E apenas no chão frio da terra procuro semear a Luz no meio da Liberdade profanada por onde corre a linguagem da Natureza entorpecida. Não há nada que me traga maior angústia do que a certeza de nunca mais partir. Por isso, embarco todos os dias nas folhas sem sentido do meu pensamento, com a fúria de quem procura encontrar-se na confusão das coisas vazias."  @SChainho [Imagem:  Female Nude, Salvador Dali, 1925 ]

Leva contigo, meu aluno

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“Leva contigo, meu aluno, leva contigo essa Luz que te acompanha nesta estrada tão incerta, neste rio que desperta, entre amarras e contendas, essa insaciável vontade que trazes dentro do peito e que transborda a cada passo. Leva, leva contigo, meu aluno, a coragem de ser e a determinação em crescer. E sobre essa água corrente, que no escuro faz barulho, faz-te grande, faz-te mundo, faz-te Luz em cada tormenta e nunca deixes de vencer!” @SChainho, junho, 2018 [Clube de Teatro/Pomonas Camonianas_ Constancia_2022]

A casa do meu avô

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"Caminhamos na Luz eterna que nos aconchega Sempre! Não tenham ilusões porque será sempre assim! E, atravessando as memórias escondidas atrás de uma figueira indomável e perpetuada pela alegria dos que a viram medrar, a casa do meu avô vislumbra-se mais leve e sublime, ainda que menos apetecível ao comum dos mortais. Nela, há cheiro a madeira bolorenta, carcomida pela traça do tempo, enquanto sarças ardentes e espinhosas corrompem a parede revestida de cal e saudade. São como demónios em epifania, numa dança fúnebre, a exortarem a falência das memórias que nunca se extinguirão. Sempre que me sento no seu regaço, ainda se ouve o tilintar das porcelanas e dos copos que transpiram a vida e enfunam a minha alma de consolo. Arrefeceram os dias, há erva fresca pelo chão…          - É hora de partir! Viro as costas para dizer Adeus, enquanto caem dos meus olhos poemas urgentes sibilando a solidão. E há silêncios demorados a gritarem, por entre as coisas mortas ali deixadas à sua sorte,

Nos nossos jardins

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"Hoje, a erva escuta, quando me lembro de ti. Faz barulho, a minha mente, porque sei que não há nada mais desconcertante do que a ausência. Trazes no semblante a forma perfeita de aprender e de ser.   Dentro dessa ausência, refugiamo-nos à espera da Primavera. E há flores no teu jardim. Esse, nunca deixas esmorecer, mesmo nos dias mais fragosos. Hoje, não há nada que possas fazer que te distraia da sinceridade que bebes em cada trago da vida. E corremos através dos dias, trespassando de forma grotesca e acirrada a saudade de um reencontro sem pressas.  Sem pressas, as flores que transpiram dentro de ti lembram-me como a grandeza tem nome. O teu. Não há forma mais correcta de dizer o quanto a falta é uma falta, senão quando estamos sós. Tão sós e imperfeitas,  as duas se complementam; – A coragem e a força. São ambas tuas, fazem parte do teu jardim. Nunca estamos sós. Nunca, minha amiga. Nunca estamos sós, porque há sempre flores nos nossos